CARTA A POPULAÇÃO – FUNCIONÁRIOS DA USP EM GREVE
Os trabalhadores da Universidade de São Paulo comunicam à população os motivos pelos quais entramos em greve no dia 5/5. Em primeiro lugar gostaríamos de esclarecer que essa greve tem por objetivo questionar o caráter extremamente elitista e antidemocrático da universidade que exclui do acesso a educação a ampla maioria da juventude trabalhadora, que persegue, reprime e demite aqueles que lutam historicamente por uma universidade pública, gratuita e de qualidade, além de nossa justa pauta salarial, fundamental no momento em que a crise econômica mundial atinge o poder de compra das famílias.
Os grandes meios de comunicação, como os jornais de grande circulação nacional e as redes de rádio e televisão, fazem uma campanha intensa contra os trabalhadores, procurando jogar a população contra aqueles que lutam pela manutenção dos seus direitos, ao dizer que prejudicamos os serviços públicos com o objetivo central de conseguir aumento salarial.
Ao contrário do discurso da reitoria e do governo do Estado que, ajudados pela imprensa, procuram nos taxar de “privilegiados”, a USP e os demais serviços públicos do país vem sofrendo um forte processo de precarização e terceirização das condições de ensino e trabalho. A USP possui mais de três mil trabalhadores terceirizados nas áreas de limpeza, vigilância e jardinagem que recebem um salário mínimo e trabalham sem equipamentos de segurança. Muitos são obrigados a comer em banheiros, pois são impedidos de utilizarem as copas dos funcionários efetivos e vivem cotidianamente sob constante ameaça das chefias. Tudo isso para que a universidade continue funcionando como grande centro de excelência de ensino e pesquisa para poucos, ao passo que faltam recursos e funcionários para os hospitais, restaurantes, creches e professores em sala de aula. Ao mesmo tempo, existem unidades de ensino e pesquisa que, diferente da grande maioria, produzem tecnologia de ponta para grandes empresas, possuem recursos humanos e financeiros de sobra e são tidos como o exemplo a ser seguido. É exatamente nesses setores que uma minoria de professores e funcionários do alto escalão (esses sim privilegiados) se utiliza da USP como um grande balcão de negócios para lucrar com fundações privadas e empresas terceirizadas à custa da estrutura da universidade.
Para que a universidade continue a serviço de uma minoria ligada às grandes empresas e ao governo, é preciso calar a voz dos estudantes, funcionários e alguns professores que lutam para ampliar o acesso a educação publica e se opõe ao seu caráter elitista e antidemocrático. Em 2005 e 2007 o Sintusp e os estudantes estiveram na linha de frente pelo aumento de verbas para a educação pública e contra a retirada da autonomia conquistada nos anos 80. Hoje, o governador Serra quer retomar seus projetos privatizantes e elitistas com a implementação do ensino a distancia (Univesp) e a Lei de Inovação Tecnológica. Ameaça 5.214 postos de trabalho da universidade, por supostas irregularidades nos contratos após 1988, dos quais os trabalhadores não têm culpa pois prestaram concurso público como determina a lei.
Por isso reivindicamos como ponto central de nossa greve o fim de todos os processos administrativos aos estudantes e trabalhadores por conta da ocupação da reitoria em 2007, e a reincorporação imediata do funcionário Claudionor Brandão, diretor do SINTUSP, demitido em dezembro de 2008 por lutar a favor dos direitos dos terceirizados e pela incorporação desses ao quadro de funcionários da USP. Essa medida tomada pela reitoria passa por cima da própria Constituição Federal de 1988 e das orientações da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que prevê estabilidade aos representantes de trabalhadores eleitos democraticamente.
Não aceitaremos pagar com demissões e retiradas de direitos os custos da crise econômica mundial, que na universidade se expressa através do corte de 20% da verba do ICMS já anunciado para o ano que vem, da repressão, da privatização e do atrelamento do conhecimento aos grandes empresários. Bilhões de reais já foram destinados a multinacionais e banqueiros enquanto milhões de trabalhadores são demitidos; no Congresso Nacional a farra das passagens aéreas mostra cada vez mais como é utilizado o dinheiro de nossos impostos; enchentes continuam matando centenas pelo país afora com o total descaso do governo. Por entendermos que o ataque que estamos sofrendo faz parte da precarização da vida da imensa maioria, conclamamos a população a se unir aos trabalhadores da USP e a todos que se mobilizam por melhores condições de vida, saúde e educação, para garantir uma universidade mais aberta e democrática, a serviço dos interesses da maioria, com livre acesso aos trabalhadores e ao povo.
COMANDO DE GREVE DOS TRABALHADORES DA USP
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