
Submetralhadora, pau-de-arara e cremes na USP
Por Lúcia Rodrigues
Logo após ser nomeada para o cargo de reitora da USP, em 2005, pelo então governador Geraldo Alckmin (PSDB), a farmacêutica Suely Vilela Sampaio declarou à imprensa que gastava a maior parte de seu dinheiro com cremes e roupas. À época, ela também confidenciou que pretendia fazer uma cirurgia plástica para ficar mais bonita. Apesar dos comentários fúteis, é direito dela investir no próprio visual.
O lamentável é que as preocupações da reitora da universidade mais importante da América Latina, não se estendam à instituição que dirige. Suely Vilela acaba de cravar em seu currículo, a pecha de reitora que permitiu que PM transformasse a USP em uma praça de guerra.
É claro, que ela não tomou a decisão sozinha. O governador José Serra (PSDB) deu o aval para que, a especialista em animais venenosos, chamasse a PM para sitiar a universidade, com policias armados, inclusive, de submetralhadoras.
Por absoluta falta de habilidade, a reitora Suely Vilela transformou reivindicações trabalhistas em caso de polícia. A prática é corriqueira em regimes ditatoriais. O próprio presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva, sentiu na pele o peso da repressão, quando comandava os metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema.
Na USP, assim como nas greves do ABC dos anos
Anos de chumbo
Desde 1968, quando os tanques do Exército invadiram a Cidade Universitária, para prender opositores do regime, não se via cenas de barbárie como as registradas no final da tarde de terça-feira, dia 09 de junho. Ao colocar a PM no campus, a reitora Suely Vilela deu sinal verde para a repressão agir. O ambiente do conhecimento, forçadamente teve de ceder lugar ao armamento do choque: bombas, tiros de borracha, cassetetes, escudos e vôos rasantes dos helicópteros militares. As imagens da selvageria praticada pela Polícia Militar, e que percorreram o mundo, falam por si.
No prédio da reitoria, recolhida em seu gabinete, Suely Vilela, assistiu a tudo pela TV, confortavelmente reclinada em sua poltrona. A tranqüilidade da reitora, no entanto, pode estar com os dias contados. O ataque militar gerou revolta e consternação na comunidade acadêmica. Até mesmo professores que não haviam aderido à greve, passaram a criticá-la abertamente.
“Fora Suely” e “fora PM” são as palavras mais ouvidas no campus. A Adusp (Associação dos Docentes da USP) já protocolou a exigência na reitoria. Acuada, a reitora escreveu artigo para a imprensa tentando justificar o injustificável. Segue na linha da intervenção do governador José Serra, que considerou a ação da PM correta.
A primeira mulher a assumir o cargo mais importante da USP, entra para o rol de persona non grata no círculo daqueles que defendem o diálogo ao invés do açoite.
Pau-de-arara
Uma funcionária do comando de greve, que prefere não ter o nome revelado com medo de represálias, afirma que as provocações dos militares aos líderes do movimento têm sido rotineiras. Se a liderança for mulher, as provocações se tornam mais pesadas. “Fazem gestos obscenos com a língua”, conta a trabalhadora.
Na manhã de terça-feira, dia 09, enquanto ela e mais duas colegas distribuíam panfletos do sindicato, nos fundos da reitoria, um grupo de policiais fazia comentários provocativos em voz alta. Um perguntava: “essa aí (manifestante) dá pra pendurar (no pau-de-arara), não dá?” Ao que o outro prontamente respondeu: “ô se dá”. Os demais militares riam da provocação feita pelos colegas de farda.
A provocação dos militares é uma alusão ao pau-de-arara, instrumento de tortura empregado pela repressão contra presos políticos durante a ditadura e vigente ainda hoje em delegacias e presídios, para castigar prisioneiros comuns.
Os resquícios do golpe de 64 estão presentes nas práticas policiais. O combate à guerrilha
A mentalidade repressiva da polícia contra os movimentos sociais, infelizmente, não é coisa do passado. Isso talvez explique a presença de armamento letal, como pistolas, revólveres e submetralhadoras dentro campus universitário. Funcionários, estudantes e professores ainda são vistos pelos militares, como inimigos internos.
Questionado pela reportagem de Caros Amigos sobre a presença de um sargento portando uma submetralhadora, em frente ao Cepeusp (Centro de Práticas Esportivas da USP), o tenente-coronel Cláudio Miguel Marques Longo, comandante da operação, silenciou. Ao ver a foto publicada no jornal da Adusp, justificou afirmando que o policial voltava de um assalto a banco.
Lúcia Rodrigues é jornalista
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